
Uma figura que definitivamente não passa despercebida no Pantanal é a arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus). A maior arara do mundo possui plumagem azul-cobalto, é uma ave social e vive em família, bandos ou grupos. Chama atenção por ser a maior espécie do grupo dos psitacídeos.
Venha conhecer mais sobre esta ave que colore os céus pantaneiros.
Onde a arara-azul-grande habita?
A arara-azul-grande era encontrada em grande parte do Brasil, mas hoje, devido a inúmeros impactos, sua ocorrência se restringiu ao Pantanal brasileiro, boliviano e paraguaio, e também no norte, nos estados do Amazonas, Pará e na região de “Gerais”, que inclui territórios do Maranhão, Bahia, Piauí, Tocantins e Goiás.
As araras-azuis podem ser encontradas em áreas abertas no Pantanal, também em áreas de pastagem, além de matas que possuem palmeiras, onde fazem seus ninhos mais perto da borda ou no interior de cordilheiras e capões.
No Pará, são mais facilmente encontradas em áreas de várzeas, que possuem maior concentração de palmeiras. Nas regiões mais secas, elas preferem platôs e vales dos paredões rochosos, fazendo seus ninhos nos ocos de palmeira ou em falhas entre os paredões.
Características da arara-azul-grande
A arara-azul-grande também é conhecida como arara-azul, arara-preta (Mato Grosso), arara-una (“una” significa “negro” em tupi) e arara-hiacinta.
Como maior espécie representante dos psitacídeos, a arara-azul-grande pode medir até 1 metro (da ponta do bico a ponta da cauda). Podem pesar até 1,3 kg quando adultos.
A plumagem característica é azul-cobalto, formando um dégradé da cabeça para a cauda. Ao redor dos olhos há um amarelo intenso. A arara possui um bico grande e curvo, e uma língua bem característica: é preta e apresenta faixas amarelas nas laterais.
Sua alimentação é especializada em frutos de palmeiras. No Pantanal, alimenta-se principalmente de cocos da bocaiuva (Acrocomia totai) e do acuri (Schelea phaleata). Na região do “Matopiba” (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), alimenta-se de piaçava (Atalea funifera) e de catolé (Syagrus cearensis). No Pará, alimenta-se de inajá (Maximiliana regia), de babaçu (Orbignya phalerata), de tucum (Astocarym sp), de gueroba (Syagrus oleracea), de alguns frutos de acuri (Scheelea phalerata) e de bocaiuva (Acrocomia aculeata) (Guedes, 1993; Presti et al., 2009).

Foto: Francisco de Aragão Junior
Reprodução
As araras-azuis, assim como outros representantes dos psitacídeos, são, em sua maioria, monogâmicos. Ou seja, quando um casal se forma, viverão sempre juntos.
A dinâmica do casal de araras é bem compartilhada. Em julho, iniciam a inspeção e reforma de cavidades nas palmeiras, para que possam nidificar entre setembro e outubro. Nessa época, pode ser comum ver casais disputando ninhos, até mesmo com outras espécies.
No Pantanal, cerca de 90% dos ninhos são encontrados em apenas uma espécie de árvore, o manduvi (Sterculia apetala) e no Pará, em Sterculia pruensis (Guedes, 1993; Presti et al., 2009). Na região nordeste, ela ainda pode usar paredões rochosos para nidificar (Collar, 1997).
Após este período, as araras criam seus filhotes até janeiro ou fevereiro do ano seguinte. A taxa de sucesso na reprodução das araras é baixa, sendo que a fêmea coloca de 1 a 3 ovos, que serão incubados entre 28 e 30 dias. Estes ovos ainda podem sofrer predação de quatis, tucanos, carcarás, gralhas. Alguns casais só se reproduzem a cada dois anos.
Passada essa fase inicial da vida, os filhotes voam com aproximadamente 3 meses. Nesta fase começam os aprendizados: como se alimentar, onde dormir, como se defender de predadores. A partir dos 9-10 meses, os filhotes já podem se virar sozinhos. Alguns ainda acompanham os pais até os 12 ou 18 meses, antes de entrarem para um novo bando de araras jovens. Estes filhotes só iniciarão sua vida reprodutiva entre os 7 e 9 anos.
Qual a importância da arara-azul-grande para a natureza?
Além de ser uma dispersora de sementes, a presença da arara-azul em um habitat é um importante indicador ambiental. A presença da arara-azul é um importante indicador de saúde ambiental. A conservação do Pantanal passa pela sua proteção.
Com seu bico rígido, a arara-azul consegue quebrar as duras camadas das sementes que consome, facilitando a germinação.
Conservação e ameaças à arara-azul-grande
As populações de arara-azul-grande tiveram um expressivo declínio, principalmente, por conta da perda de habitat e a captura ilegal para o tráfico de animais.
Há cerca de 30 anos, as araras-azuis ganharam um grande aliado: o Instituto Arara-Azul. Idealizado e conduzido pela bióloga Neiva Guedes, a organização realiza o monitoramento, recuperação e manejo de ninhos naturais e artificiais instalados no Pantanal, acompanhamento de todo o ciclo de vida das araras, atividades de educação ambiental, pesquisas científicas, entre outros.
Estes esforços de conservação resultaram no crescimento da população de araras-azuis. De acordo com número do Instituto, desde 1999, o número de indivíduos subiu de 1.500 para 5 mil no Pantanal.
Os incêndios criminosos que tem se tornado recorrentes, ano após ano, no Pantanal, também tem contribuído para o declínio da espécie.
Além disso, as mudanças climáticas tem causado prejuízos não só à espécie, mas também às espécies vegetais das quais o ciclo de vida da arara-azul depende.

Casal de araras-azuis vigiando o ninho artificial no Pantanal – Foto: Isabella Baroni
Referências