Entender o mosaico de vegetação do Pantanal é também compreender a importância de conservá-lo. Neste texto, te contamos tudo o que você precisa saber sobre características vegetais da maior planície alagável do mundo!
Mas antes disso, vamos só relembrar algumas características importantes sobre esse bioma.
O bioma Pantanal
O Pantanal é a maior área úmida de água doce do mundo com cerca de 190 mil km², localizada, principalmente, nos estados brasileiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (~80%), com participações menores na Bolívia (~19%) e Paraguai (~1%).
É o menor bioma brasileiro, ocupando apenas 1,8% do território nacional. Esse cenário reforça a necessidade de proteger e preservar esse ecossistema frágil e vital para a nossa biodiversidade e para o equilíbrio ecossistêmico.
O Pantanal não está sozinho. Ele é cercado e sofre influência de 5 biomas, 3 no Brasil e 2 fora dele. Clique aqui e veja nosso texto sobre os biomas em torno do Pantanal.
Com toda essa diversidade, vamos agora entender como é formada a vegetação do Pantanal?
Tipos de formações vegetais do Pantanal
A vegetação do Pantanal é uma mistura única de plantas provenientes de diversos biomas, como o Cerrado, a Amazônia, a Mata Atlântica, além do Chaco e do Bosque Chiquitano. Essa diversidade botânica resulta em ecótonos, áreas onde esses biomas se encontram e se mesclam, criando zonas de transição de grande interesse ecológico. Embora o Pantanal seja rico em diversidade, endemismos são escassos, sobretudo devido em parte à sua origem geológica recente (~2 milhões de anos).
Fonte: SOS Pantanal.
O Pantanal possui uma flora tão diversa que existe até uma espécie de “dicionário” para sua formação vegetal. Confira o que significa cada uma delas para te ajudar a entender melhor esse texto.
Estas são as definições estabelecidas pela EMBRAPA:
o Baías: lagoas temporárias ou permanentes de tamanho variado, com espécies de plantas aquáticas emergentes, submersas ou flutuantes. Esses ambientes são importantes para a fauna aquática;
o Cordilheira: pequenas faixas de terreno não inundável, com 1 a 3 metros acima do relevo adjacente, com vegetação de cerrado, cerradão ou mata;
o Cambarazal: mata inundável de cambará, árvore amazônica;
o Campos: áreas inundáveis, com predominância de gramíneas;
o Capão: mancha de vegetação arbórea, de cerrado, cerradão ou mata, formando verdadeiras ilhas nos campos;
o Carandazal: campos inundáveis e capões com dominância de carandá (Copernicia alba), uma palmeira do Chaco, com folhas em forma de leque, parente da carnaúba do Nordeste, e com madeira utilizada para cercas e construções;
o Corixo: curso d´água de fluxo estacional, com calha definida (leito abandonado de rio), geralmente com mata ciliar;
o Paratudal: campo com árvores de paratudo, que é um dos ipês-amarelos;
o Salinas: são lagoas de água salobra, sem cobertura de plantas aquáticas, mas com grande densidade de algas – o que confere uma cor esverdeada à água;
o Vazante: curso d´água temporário, amplo, sem calha definida; no período seco geralmente é coberta por gramíneas como o mimosinho, preferido pelo gado e por herbívoros silvestres.
Essas formações vegetais são influenciadas pela inundação sazonal, pelas características únicas do solo e também pelo fogo.
Diversidade e mosaicos da paisagem
Dentro da vasta planície pantaneira, segundo um estudo de Pott e colaboradores e demais estudos divulgados na UNESP, estima-se a presença de cerca de 2000 espécies de plantas, com destaque para 240 espécies de leguminosas e 212 espécies de gramíneas.
A complexidade da vegetação do Pantanal é uma expressão das características geográficas, climáticas e ecológicas da região. Este bioma representa um mosaico de fisionomias vegetais, que vão desde campos abertos cobertos por gramíneas até florestas fechadas. Essa diversidade reflete a influência dos biomas vizinhos, dos efeitos das ações humanas e dos gradientes ambientais que determinam a distribuição dos diferentes tipos de vegetação no Pantanal.
Dentre as formações vegetacionais mais notáveis, o Cerrado é o tipo mais representativo, cobrindo cerca de 36% de sua superfície. O Cerradão, uma formação fechada com predominância de árvores, ocorre nas áreas mais elevadas, como nas “cordilheiras,” enquanto o Cerrado sensu stricto se desenvolve em áreas mais baixas e planas. Essa diferenciação de fitofisionomias do Cerrado ocorre principalmente devido à altura das árvores, cobertura das copas e à presença de algumas espécies indicadoras, como o Timbó e o Carvoeiro, que são características de solos mais férteis, como o do Cerradão.
Outra formação interessante é a das matas de galeria, “pequenas florestas” que acompanham os rios do Pantanal. Elas formam faixas de vegetação ao longo do rio Paraguai e seus principais afluentes, e incluem os “Cambarazais,” onde predomina o Cambará (Vochysia divergens). Essas matas ciliares são fundamentais para a biodiversidade e a manutenção das funções ecológicas na região pois fornecem refúgio, alimento e um corredor de dispersão para várias espécies de animais.
Os campos naturais representam quase 1 ⁄ 3 da área do Pantanal, especialmente nas microrregiões (ou sub pantanal) de Paiaguás, Nhecolândia, Abobral e Nabileque. Para saber mais sobre cada microregião clique aqui. Os campos inundados são mais comuns ao longo dos rios, enquanto os campos secos ocorrem com mais frequência em áreas livres de inundação. Muitas dessas áreas campestres são usadas para a pecuária, com algumas sendo substituídas por espécies forrageiras exóticas.
Ocupação e uso do solo na planície pantaneira
As formações naturais não florestais abrangem 49,1% do bioma, caracterizadas por vegetação nativa de pequeno porte como gramíneas, herbáceas e arbustos. Desta formação, 17% são ocupadas por campos alagados e áreas pantanosas, enquanto os 83% restantes são formados por vastas paisagens campestres, conhecidas pelos famosos capins nativos.
As formações florestais cobrem quase um terço do bioma, totalizando 31,3% da área. Estas incluem capões e cordilheiras que raramente são inundadas, possibilitando o desenvolvimento de uma vegetação densa. Desta área florestal, 50% são compostos por formações savânicas e os outros 50% por formações florestais, caracterizadas por árvores de porte mais elevado.
Os corpos d’água ocupam 4,5% do bioma e enfrentam um desafio preocupante, com uma redução média de 29% de sua superfície nas últimas três décadas, conforme revelado pelo levantamento do MapBiomas.
A atividade agropecuária é notável na planície pantaneira, ocupando uma parcela de 14,9% do território. Dentre essas áreas, 99% são dedicadas à pastagens exóticas, representando um aumento significativo que triplicou desde 1985 até 2022.
O Pantanal: de 1985 a 2022. O que mudou?
A comparação entre os anos de 1985 (início do monitoramento por satélites) e 2022 revela mudanças significativas no uso do solo no Pantanal. Em 1985, as formações florestais abrangiam 2,9 milhões de hectares (Mha), enquanto em 2022 esse número caiu para 2,4 Mha. Da mesma forma, as formações savânicas diminuíram de 2,5 Mha em 1985 para 2,3 Mha em 2022.
Por outro lado, houve um aumento significativo na área de pastagem, que passou de 0,8 Mha em 1985 para 2,2 Mha em 2022. Destaca-se também o crescimento expressivo da formação campestre, que saltou de 2,8 Mha para 6 Mha em 2022.
No que diz respeito aos corpos d’água, houve uma redução considerável, de 3,5 Mha em 1985 para 0,7 Mha em 2022. No entanto, é importante ressaltar que a perda de água é mais precisamente medida pela média entre os picos das grandes cheias ao longo das décadas, resultando em uma redução média de 29%, conforme mencionado anteriormente.
Todos estes dados são do relatório do MAPBIOMAS. Confira os dados resumidos compilados no infográfico abaixo.
Imagem: MAPBIOMAS.
O Pantanal se destaca como um autêntico mosaico vegetal, singular em sua riqueza e diversidade de espécies, as quais desempenham papeis fundamentais na manutenção das funções ecológicas e na prestação de serviços ecossistêmicos. Este bioma abriga as maiores populaçõesde espécies ameaçadas, como a onça-pintada, ariranha, arara-azul e o cervo-do-pantanal.
O uso sustentável desse recurso natural é fundamental para protegero Pantanal e mantê-lo como um dos biomas mais conservados, não apenas no Brasil, mas também no mundo. Por isso, compreender melhor sua vegetação e adinâmica intrinsecamente ligada à inundação e ao fogo é essencial para orientar políticas públicas de conservação e garantir a sustentabilidadel dessa região tão emblemática.
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