Ameaças ao
Conheça algumas problemas que a maior planície alagável do mundo enfrenta:
Seca prolongada
O Pantanal é um bioma altamente dependente da água. Essa água que abastece a planície pantaneira vem em sua grande maioria dos rios que nascem no planalto, no entorno do Pantanal, nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica (Floresta Estacional Semidecidual). Ao contrário do que parece, o Pantanal não é um pântano, pois em grande parte, não fica alagado permanentemente. Ao longo do ano, o bioma passa por períodos de cheia e seca, ou pelo menos era assim que deveria acontecer naturalmente. Devido a fatores como as mudanças climáticas e a degradação do Cerrado e Amazônia no entorno da planície, os volumes de chuva têm diminuído e o Pantanal está enfrentando períodos de seca muito severos e mais recorrentes, o que pode levar o bioma a um processo de desertificação ao longo das décadas.
De acordo com levantamentos do MapBiomas, nas últimas 4 décadas o Pantanal perdeu 21% de sua superfície de água (comparação entre a primeira grande cheia registrada em 1988 e a última grande cheia registrada no bioma em 2018). Na prática, isto significa que a inundação tem atingido uma área cada vez menor, e a água permanecido por períodos menos no bioma. A tendência para as próximas décadas é que o bioma continue neste processo de desertificação, o que afeta diretamente os serviços ecológicos hoje existentes.
Desmatamento no planalto
Praticamente toda a água do Pantanal vem de fora, do planalto. E é no planalto onde a paisagem foi mais modificada, com substituição de mata nativa por monoculturas (soja, milho e etc.) ou para pastagem. Essa alteração do solo de forma desenfreada, não respeitando as Áreas de Proteção Permanente (APP) no entorno de rios e nascentes, acarreta problemas enormes como o assoreamento dos rios: acúmulo de terra, lixo ou matéria orgânica no fundo de um rio, geralmente ocasionado quando o curso d’água não possui matas ciliares (vegetação nas margens do rio). Sem a proteção natural das matas, o vento e a chuva levam a camada superficial do solo em direção aos rios, o que resulta em danos ambientais, como a elevação do leito (dificultando a navegação) e diminuição do volume de água nos períodos mais secos.
O planalto da BAP (Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai) está nos biomas do Cerrado e Amazônia, origem de rios cruciais para a planície pantaneira.
A nota técnica emitida pelo MapBiomas em janeiro de 2024, destaca algumas informações importantes sobre o desmatamento no planalto da Bacia do Alto Paraguai:
Segundo a instituição, entre 1985 e 2022, houve uma perda de 41% das áreas naturais no planalto, sendo 2.1 Mha de florestas, 2.7 Mha de savanas e 0,46 Mha de campos naturais (confira gráfico). Além disso, nas últimas três décadas, foram convertidos para Pastagem e Agricultura 5,4 milhões de hectares (Mha) de vegetação nativa.
Fogo
O fogo é a ameaça mais e e que esteve em maior destaque nos últimos anos. Incêndios florestais no Pantanal ocorrem devido a uma soma de fatores, como a seca, o acúmulo de matéria orgânica e a ação humana. Mais de 95% dos incêndios são iniciados por ação humana, sejam elas intencionais ou não. Apesar de os incêndios acontecerem antes da ocupação humana no bioma, a frequência e a intensidade desses eventos está trazendo consequências desastrosas para o meio ambiente, comunidades e para a economia local.
Em 2020, mais de 3,6 milhões de hectares foram consumidos pelas chamas no Pantanal, e a tendência de anos mais quentes e secos indica que o cenário pode piorar em um futuro próximo.
Unidades de Conservação
O Pantanal, mesmo sendo um dos biomas mais ricos e diversos do Brasil, encontra-se em uma situação preocupante no que diz respeito às áreas protegidas.
Apenas 4,6% do seu território está protegido por unidades de conservação, sendo que 2,9% correspondem a unidades de proteção integral e 1,7% a unidades de uso sustentável. Essa porcentagem é alarmante, especialmente quando comparada às diretrizes internacionais que visam a preservação ambiental.
As Metas de Aichi, estabelecidas em 2010 pela Convenção sobre Diversidade Biológica, propõem que 17% das áreas terrestres sejam formalmente protegidas até 2020². Essas metas foram criadas com o intuito de combater a perda da biodiversidade global, assegurando que habitats críticos sejam preservados e que os ecossistemas possam continuar a fornecer serviços essenciais à humanidade. No entanto, o Pantanal está longe de atingir essa meta, com uma porcentagem de áreas protegidas muito longe do recomendado.
Além disso, na Conferência das Partes (COP 15) da Convenção sobre Diversidade Biológica, realizada em 2022, foi acordado um novo valor para a conservação global, que estabelece a proteção de 30% das áreas até 2030. Esse novo compromisso reflete a urgência crescente em enfrentar a crise da biodiversidade, reconhecendo a necessidade de medidas mais ambiciosas e eficazes para garantir a sobrevivência dos ecossistemas naturais.
Centrais Hidrelétricas e Hidrovia
Um problema pouco conhecido para os rios do Pantanal é a existência de PCH’s (Pequenas Centrais Hidrelétricas), usinas menores do que as tradicionais, mas que também usam a força e a velocidade da água para gerarem energia. Essas usinas são construídas em rios menores que abastecem o Pantanal, interrompendo e dificultando o fluxo natural da água nos rios, deixando-os com níveis reduzidos ao longo do ano.
A Bacia do Alto Paraguai (BAP) está passando por um processo de expansão na instalação de projetos hidrelétricos, com pelo menos 44 projetos já em andamento e a previsão de 126 novos empreendimentos. Esse movimento visa aumentar a geração de energia na região, embora a BAP represente apenas 1,2% do potencial total de geração hidrelétrica do Brasil. Mesmo com sua participação relativamente pequena no cenário energético nacional, a bacia está sendo cada vez mais explorada para atender às demandas energéticas do país.
Por que isto pode ser um problema? A construção de barragens para Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) na BAP tem um impacto significativo no fluxo de água que chega ao Pantanal, uma das maiores áreas úmidas do mundo.
Essas barragens reduzem o volume de água que alimenta o Pantanal, afetando a dinâmica hídrica e comprometendo a biodiversidade da região.
Além dos impactos ecológicos, a restrição do fluxo de água e a redução na população de peixes têm consequências socioeconômicas graves. Muitas famílias que vivem na região do Pantanal dependem da pesca como principal fonte de sustento, e sua diminuição afeta diretamente suas condições de vida. Além disso, o turismo, que é uma atividade econômica importante na região, também sofre com a degradação ambiental causada pelas PCHs. Portanto, a expansão dos projetos hidrelétricos na BAP precisa ser cuidadosamente avaliadas.
No caso das hidrovias e portos, nos últimos anos foram concedidas licenças provisórias para os portos de Barranco Vermelho e Paratudal, ambos no Rio Paraguai. Os portos, cujos projetos apresentaram centenas de falhas de acordo com o relatório ambiental da própria Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso, fazem parte de uma estratégia maior de ampliar a hidrovia do Rio Paraguai, através de alterações em seus meandros e calha, para torná-la viável economicamente.
Colisão entre fauna silvestre e veículos
Em 3 anos de monitoramento, pesquisadores do ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres) registraram mais de 6.500 animais mortos na BR 262 somente no trecho entre Campo Grande e Corumbá, dos quais 363 eram de espécies ameaçadas de extinção. A realidade é pior quando olhamos para as estatísticas, pois menos de 50% dos animais mortos são contabilizados, devido ao fato de que a maioria morre longe da pista e a carcaça não é vista/registrada.
No caso dos tamanduás-bandeiras, o projeto monitora desde 2017 no estado de MS e, dos 90 animais monitorados desde então, apenas 20 seguem vivos. A grande maioria morreu devido a colisões com veículos.
Na grande maioria das vezes, as colisões não são intencionais, e os usuários da estrada são tão vítimas quanto os animais. Mais de 90% das colisões ocorrem de noite, quando há maior atividade dos animais e menor visibilidade na pista.
Esses acidentes geram custos milionários tanto para o poder público quanto para as pessoas envolvidas, custos estes que são muito maiores do que os da implementação de medidas para reduzir esses acidentes. Estudos mostram que esse custo se paga em menos de 10 anos, gerando economia para os cofres públicos em pouquíssimo tempo.
As soluções para este problema devem ser instaladas em conjunto para haver uma real eficácia, e passam pela implementação de: cercamento de trechos da estradas, passagens de fauna (subterrânea e aérea), mais radares (em pontos-chave da rodovia), sinalizações mais eficientes e diminuição da direção noturna. Essas medidas somadas podem reduzir mais de 80% dos acidentes, poupando centenas de vidas humanas, milhares animais, além de evitar milhões em prejuízos financeiros.