A Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (BAP) tem importância fundamental na composição do bioma Pantanal, na verdade, o Pantanal todo está dentro dela e depende de suas águas para existir. O modelo de ocupação e uso econômico do bioma respeitou os limites impostos, principalmente, pela relação do território com os ciclos da água, porém no planalto da BAP, o cenário é diferente. Apesar de ser uma bacia que sofreu poucas intervenções de engenharia até o momento, ações antrópicas contínuas vem debilitando cada vez mais esta importante formação, principalmente no planalto, onde muitas nascentes e rios estão em estado avançado de degradação.
Além disso, compreender a relação de causa e efeito entre planalto e planície é fundamental para que busquemos medidas efetivas para a proteção do Pantanal. Vamos entender mais sobre este tema?
Primeiramente… o que é uma bacia hidrográfica?
Uma bacia hidrográfica é a área de escoamento de um rio principal e de seus afluentes. Devido ao relevo e geografia, a água da chuva escorre de uma parte mais alta, o planalto, para um rio principal e seus afluentes, que se encontram na parte mais baixa da paisagem, a planície.
Se pensarmos em todo o território de nosso país, vamos lembrar de muitos rios importantes e, cada um destes rios formam suas bacias hidrográficas. Quando falamos de Pantanal, o rio mais importante que banha o bioma é o rio Paraguai.
A Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai

Bacia do Alto Paraguai – Elaboração: Stefania C. Oliveira | SOS Pantanal
A BAP localiza-se em três biomas: Amazônia, Cerrado e Pantanal, havendo, ainda, fragmentos de Mata Atlântica em sua porção sul. O planalto, ou seja, a parte mais alta da bacia, é composta por patamares, serras, chapadas e depressões e engloba os biomas do Cerrado (83%) e Amazônia (17%). Este conjunto desempenha um papel fundamental na hidrologia da planície pantaneira.
Essas duas regiões, planalto e planície, apresentam grande interdependência funcional e ecológica, em que todas as atividades realizadas no Planalto têm consequências diretas sobre a dinâmica da Planície.
Todos os rios da região nascem no planalto e fluem em direção à planície, até alcançarem o rio Paraguai. Para que o rio Paraguai consiga ter volume de água o suficiente para transbordar nas épocas de cheia (pulso de inundação), é necessário que estes rios que desembocam nele mantenham um bom fluxo de água. Mas, afinal, quais são os rios que fluem até o rio Paraguai?
Afluentes do rio Paraguai
Os rios que deságuam em um rio maior chamam-se afluentes. O rio Paraguai possui diversos afluentes, sendo os principais Sepotuba, Cabaçal, Jaurú, São Lourenço, Paraguai Mirim, Pacu, Velho, Negrinho, Taquari, Abobral, Miranda, Novo, Nabileque, Negro (Bolívia e Paraguai), Branco, Tereré, Aquidaban e Apa, no território brasileiro. Os afluentes Ypané, Monte Lindo, Jejuí, Manduvirá, Piribebuy, Pilcomayo, Tebicuari e Bermejo são afluentes fora do território do Brasil.
Onde nasce o rio Paraguai?
O rio Paraguai, por sua vez, tem sua nascente localizada na Chapada dos Parecis, no estado de Mato Grosso. Com seus 2.695 km de extensão, o rio passa por Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, até desaguar no rio Paraná. Toda essa região é densamente ocupada por monoculturas.

Chapada dos Parecis, MT, onde nasce o rio Paraguai – Foto: Caio Vilela, CC BY-SA 3.0
Cobertura vegetal da Bacia
A cobertura vegetal da BAP tem sido modificada ano após ano, principalmente na porção do planalto.
De acordo com dados do MapBiomas, a conversão de áreas naturais (formações florestais e savânicas) para a agropecuária é mais expressiva no planalto, totalizando 41%, o que equivale a 5,4 milhões de hectares. Já, na planície, a perda de áreas naturais totalizou 12%, equivalente a 1,8 milhões de hectares entre 1985 e 2024.
Estas perdas de vegetação natural tem uma importante ligação com a água e a perda de superfície de água no Pantanal que veremos adiante.
Quais os impactos que a Bacia do Alto Paraguai vem sofrendo?
A Bacia do Alto Paraguai tem sofrido grandes alterações, especialmente nos últimos 30 anos, com o avanço da agropecuária no planalto. Essas mudanças têm provocado transformações significativas na paisagem da planície.
Conforme apontado na Coleção 4 do MapBiomas Água, lançada em 21 de março de 2025, o Pantanal foi o bioma que mais perdeu superfície de água em 2024, em relação à média histórica: 61% de perda. O aumento dos períodos de seca, desde a última grande cheia em 2018, tem contribuído para esta perda significativa de superfície de água.
A Região Hidrográfica do Paraguai, onde está o Pantanal e suas nascentes, foi criticamente afetada, refletindo nestas grandes perdas de superfície de água. Estas perdas deixam o bioma cada vez mais suscetível a incêndios florestais e consequente redução de biodiversidade. Além disso, o rio Paraguai registrou, em 2024, o menor nível dos últimos 124 anos: o rio bateu a marca de 69 cm negativos no ponto de monitoramento de Ladário (MS).
O que fazer para reverter esta situação e conservar a BAP?
Algumas intervenções são importantes para que uma bacia hidrográfica seja revitalizada. Esse processo consiste na implementação de ações ambientais integradas e permanentes desenvolvidas no território da bacia hidrográfica. O principal objetivo é melhorar a disponibilidade de água em quantidade e qualidade para os usos múltiplos, contribuindo, assim, com a segurança hídrica do país.
Dentre as intervenções possíveis, estão a restauração de nascentes e áreas de proteção permanente ao longo dos rios, recomposição de matas ciliares, remoção de pequenas centrais hidrelétricas (PCH), manejo correto do solo para usos múltiplos, entre outros.
Como o SOS Pantanal tem se movimentado para recuperar os rios pantaneiros?
Diversas iniciativas do SOS Pantanal visam somar esforços para que a bacia e os rios pantaneiros se recuperem:
– Recuperação de áreas degradadas: os projetos Raízes do Pantanal e o Caminhos das Nascentes tem recuperado áreas de floresta ao longo da bacia, com plantio de mudas de árvores nativas, auxiliando a retenção de água, o retorno de nascentes degradadas e boas práticas do manejo do solo.
– Colaboração com o governo para desenvolver políticas eficazes: o trabalho de Advocacy do SOS Pantanal torna a organização uma voz proeminente na defesa dos interesses de preservação do Pantanal, influenciando a criação de políticas públicas eficazes.

Foto: Gustavo Figueirôa
Referências
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) – Região Hidrográfica Paraguai
ANA – Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Paraguai
Bacia do Alto Paraguai – uma viagem no tempo
Embrapa Pantanal – Mapeamento da Bacia do Alto Paraguai
Imasul – “Após recorde negativo, rio Paraguai volta à normalidade”
MapBiomas – Coleção 9 – Destaques do Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra BIOMA PANTANAL