
A planície pantaneira está totalmente relacionada ao planalto, porção mais alta de relevo que despeja água, sedimentos e nutrientes para a planície. Para pensarmos na conservação do Pantanal, é necessário olhar também seu entorno.
Além da conservação da própria planície pantaneira, a conservação do planalto, que é coberto principalmente pelo bioma Cerrado, é essencial para garantir a perenidade do Pantanal, toda sua dinâmica climática, socioeconômica e funções ecológicas.
Pensando nisso e buscando uma solução, o SOS Pantanal, em parceria com o Instituto Taquari Vivo, elaborou o projeto “Caminhos das Nascentes”.
O projeto
O “Caminhos das Nascentes” irá recuperar e restaurar o solo e a vegetação de duas importantes Unidades de Conservação situadas na Bacia do Rio Taquari: Parque Estadual Nascentes do Rio Taquari em Costa Rica – MS, e o Monumento Natural Municipal Serra do Bom Jardim em Alcinópolis – MS.
A proposta pretende recuperar 378 hectares, dos quais 250 hectares serão destinados à construção de terraços para o manejo eficiente das águas pluviais e contenção de erosões, e 120 hectares destinados diretamente à cobertura da vegetação nativa.
Por que recuperar áreas dentro de Unidades de Conservação?
As duas áreas escolhidas foram recentemente adquiridas pelo governo do estado e convertidas em áreas protegidas. A conversão de áreas privadas em áreas protegidas, assim como a restauração de áreas degradadas dentro de unidades de conservação, possibilita uma intervenção ambiental eficaz e regulada para conservar a biodiversidade e os ecossistemas sensíveis.
Como é o processo de mobilização e implementação deste projeto?
Para garantir a eficiência desejada neste projeto, são levados em conta seis eixos estratégicos:
1) Redução dos processos erosivos por meio da recuperação e da restauração ambiental das áreas;
2) Mobilização e articulação de produtores rurais ao redor das áreas;
3) Incentivo às boas práticas de manejo e conservação do solo por meio de formações e oficinas para este público de produtores rurais;
4) Impulsionamento da demanda por mudas e sementes nativas, apoiando iniciativas e entidades que fortaleçam a cadeia de restauração ecológica;
5) Estruturação de uma base de pesquisa a fim de ampliar o conhecimento técnico-científico gerado sobre as metodologias de recuperação e restauração ecológica em áreas erosivas;
6) Criação de um protocolo e estabelecimento de um sistema de monitoramento para acompanhar a restauração da área de forma eficaz.
E por quê restaurar a Bacia do Rio Taquari?
O processo de restauração desta Bacia, principalmente de suas nascentes, é fundamental para a defesa e manutenção da saúde única da região. A Bacia do Rio Taquari funciona como um grande depósito natural de água para o Pantanal, garantindo a recarga hídrica e a qualidade da água que alimenta todo o bioma.
A degradação das nascentes compromete a infiltração da água, aumenta o assoreamento e reduz o fluxo regular do rio, afetando diretamente a biodiversidade, a pesca, a pecuária e a vida das comunidades locais que dependem dele. Para entender melhor as questões que a Bacia do Rio Taquari enfrenta, o Documenta Pantanal produziu o documentário “Um Rio Desbocado”.
Portanto, recuperar essas áreas significa proteger a base ecológica e socioeconômica do Pantanal.

Foto: Gustavo Figueirôa
Contextualizando a Bacia do Rio Taquari
As nascentes da bacia do Taquari estão localizadas no estado do Mato Grosso, entre a Serra da Saudade e a Serra de Maracaju. A Bacia Hidrográfica do Rio Taquari é uma importante bacia que deságua no Rio Paraguai, um dos principais rios que banham o Pantanal. A bacia percorre 34 km dentro de Mato Grosso até se encontrar na divisa com Mato Grosso do Sul, onde recebe águas dos rios Coxim e Jauru, até entrar no Pantanal.
O Rio Taquari tem, oficialmente, 801 km, nasce no extremo sul do Mato Grosso e atravessa todo o estado do Mato Grosso do Sul, onde finalmente desembocava no Porto da Manga, no Rio Paraguai. No entanto, isso mudou.
O excesso de sedimentos provocou o assoreamento do Taquari, ou seja, o fundo do rio se elevou. Em vários trechos, o leito ficou mais alto do que a planície ao redor. Com o leito mais alto e as margens fragilizadas, o rio começou a romper seus diques naturais e abrir novos canais, um processo chamado avulsão. Isso espalhou a água de forma descontrolada pela planície, transformando áreas que antes eram pastagens e fazendas produtivas em grandes áreas alagadas.
Esse processo alagou permanentemente cerca de 11 mil km² do Pantanal do Taquari, inviabilizando atividades agropecuárias tradicionais, causando prejuízos econômicos e o abandono de propriedades.
A geomorfologia local faz com que a Bacia do Rio Taquari tenda a assorear naturalmente. Porém, a ação humana acelerou este processo, aumentando a concentração de sedimentos pelas margens dos cursos d’água.
Hoje, o Rio Taquari ainda deságua no Rio Paraguai, no Pantanal, mas o processo de avulsão mudou bastante a forma como essa água chega lá.
Antes, o Taquari tinha um canal único e bem definido, que levava a água diretamente ao Paraguai. Hoje, com o leito assoreado e os rompimentos de diques naturais, ele se espalha por uma ampla área da planície em múltiplos canais, formando várias saídas difusas para o Paraguai.

Rio Figueirão assoreado – Foto: Gustavo Figueirôa
Contexto de expansão agropecuária na região
Diversos programas de incentivos ao desenvolvimento agropecuário levaram ao estabelecimento da atividade na Bacia do Alto Taquari. Comparativamente, em 1977 apenas 3,4% da bacia era ocupada por lavouras e pastagens cultivadas. Já em 2000, apenas 26 anos depois, este número subiu para 62%. Atualmente, 68% estão ocupadas por atividades agropecuárias, sendo a pecuária responsável por mais de 50% de ocupação da área da Bacia do Alto Taquari.
A pesca, que era uma importante atividade socioeconômica na região, foi amplamente afetada pelo acúmulo de sedimentos nos rios, declinando com o passar dos anos.
Os processos de erosão, causados por um manejo inadequado do solo e pelo desmatamento excessivo, têm trazido sérios problemas à região: perda de áreas de pastagem, redução da produtividade do solo, pastagens exóticas substituindo matas ciliares, entre outros.
Financiamento e Parceiros
O Projeto Caminhos das Nascentes: Restauração Ambiental na Bacia do Taquari foi aprovado em 2024 para receber recursos financeiros do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBio) (Edital 19/2023, Floresta Viva – Corredores de Biodiversidade), e conta com o apoio da Petrobrás e BNDES
O projeto é executado pelo Instituto Taquari Vivo e Instituto SOS Pantanal, em parceria técnica com o IMASUL, o Laboratório de Ecologia da Intervenção (LEI) – UFMS, a empresa Restaura, e as prefeituras municipais de Alcinópolis e Costa Rica.