
O planeta todo vem enfrentando a crise hídrica, que já é realidade para bilhões de pessoas mundo afora. Caracterizada pela insuficiência do abastecimento de água para o consumo e atividades humanas, em volume e quantidade, a crise hídrica afeta muitas pessoas ao redor do mundo. Dados da Unesco estimaram, em 2024, que pelo menos 50% da população do planeta sofre com a falta de água pelo menos um mês ao ano. Além disso, os dados mostram que, até este ano, é provável que 1,8 bilhão de pessoas enfrentem a escassez absoluta de água.
Vamos entender, a seguir, a relação da crise hídrica com o Pantanal, e como podemos minimizar esses efeitos para a população pantaneira.
O que causa a crise hídrica?
A escassez de água, ou crise hídrica, é causada por uma série de fatores, naturais e humanos que, combinados, levam à diminuição da disponibilidade de água.
Fenômenos climáticos – fenômenos como o El Niño e o La Niña podem ser responsáveis por alterar as dinâmicas da água em algumas localidades. Por exemplo, podem estender os períodos de seca em uma determinada região, ou podem trazer mais chuvas para outra parte.
Aumento das atividades humanas – o aumento da população faz com que o consumo de água para suprir as demandas da agricultura e das indústrias também cresçam.
Desmatamento – a perda de cobertura de vegetação nativa do solo interrompe a dinâmica de “rios aéreos”, que tem função primordial de trazer água para o continente.
Aquecimento global – a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), principalmente pela exploração e uso do petróleo como combustível, aumenta o aquecimento do planeta. Este aumento altera ciclos naturais, fazendo com que a disponibilidade de água também reduza.
Falhas na gestão dos recursos hídricos – a falta de infraestrutura para armazenamento e distribuição de água, principalmente para o abastecimento voltado à agropecuária, indústrias e grandes centros urbanos, também pode levar à escassez.
Crise hídrica no Brasil
O Brasil vem sofrendo cada vez mais com a escassez de água a cada ano que passa. Diversas regiões tem sofrido com este grave problema que, de acordo com os especialistas, só tende a piorar. A segurança hídrica no Brasil está sendo afetada, com risco iminente de desabastecimento doméstico e o fornecimento de energia para grandes regiões metropolitanas, por exemplo.
O Brasil detém 12% da água potável do planeta, mas a distribuição desta água é desigual. Conforme apontam indicadores do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) (ano-base 2022), em média, 33 milhões de pessoas não têm acesso à água em nosso país.
61% desta água está na Amazônia, onde vivem 29 milhões de brasileiros. Já a Caatinga, que abriga 32 milhões de habitantes, tem menos de 1 milhão de hectares de superfície de água (981 mil, ou 5% do total). Com 2,2 milhões de hectares, a Mata Atlântica tem 13% da superfície de água no Brasil, seguida pelo Pampa (1,8 milhão de hectares, ou 10% do total) e Cerrado (1,6 milhão de hectares, ou 9% do total). Estes dados são do MapBiomas (coleção Água) .
Em 2024, a Agência Nacional das Águas (ANA), órgão responsável pela gestão das águas no país, decretou situação de escassez hídrica em quatro regiões: bacia hidrográfica do rio Madeira, rio Purus e seus afluentes, trecho baixo do rio Tapajós e no rio Xingu, que abriga a Usina de Belo Monte e, a principal que interessa nesta discussão, a do rio Paraguai, onde se encontra o Pantanal.

Área desmatada no Pantanal do MS, verificada após alerta via satélite ser gerado pelo MapBiomas – Foto: Gustavo Figueirôa
Crise hídrica no Pantanal
O Pantanal vem secando a cada ano. Períodos de cheia estão cada vez mais curtos, com áreas menores sendo inundadas, e os períodos de seca estão se estendendo cada vez mais, por períodos cada vez mais longos.
A água do Pantanal não nasce nele próprio, ela vem dos demais biomas que o cercam, principalmente o Cerrado e Amazônia. Oito, das 12 principais bacias hidrográficas do Brasil nascem no Cerrado, que teve mais da metade da área desmatada total do país em 2023. A porção de Cerrado da Bacia do Alto Paraguai está em um nível avançado de degradação, em sua grande parte causado pelo avanço desenfreado de monoculturas.
Dados gerados pelo MapBiomas nos dão uma proporção da crise que o bioma vem enfrentando cronicamente ao longo das últimas décadas, porém intensificado a partir de 2019. O Pantanal foi o bioma que mais perdeu superfície de água na média histórica: 61% abaixo da média em 2024 .
Todos estes fatores são vivenciados e sentidos diretamente pela população pantaneira: poços secos, abastecimento escasso, comunidades sem acesso à água ou água imprópria para consumo.
Somando-se aos fatores que estão causando a crise, importantes sub-bacias da bacia hidrográfica do Alto Paraguai (BAP) vem sofrendo com um intenso processo de assoreamento, provocando insegurança hídrica e alimentar nas comunidades e impactando a economia local.
O que temos feito para amenizar os efeitos da crise hídrica no Pantanal
A água é um recurso vital no Pantanal. Nós, do SOS Pantanal, entendemos a necessidade de trabalharmos a fundo com o tema e criamos o programa “Águas do Pantanal”. O programa conta com a cooperação técnica do SOS Mata Atlântica, e tem como objetivo monitorar a qualidade e contaminação dos corpos hídricos em locais-chave na Bacia do Alto Paraguai. O objetivo final é, através desta rede de ciência cidadã, fortalecer a participação da sociedade no âmbito da Governança Hídrica.
Dentro deste programa, contamos com o projeto “Águas que Falam“, em parceria com a organização Chalana Esperança e com o apoio da Everest, que visa monitorar a qualidade da água em comunidades vulneráveis na Bacia do Alto Paraguai, promover a potabilização da água e fortalecer a governança hídrica.

Foto: André Bittar
Projeto “Águas que falam” em números
- Contamos com a parceria de seis municípios: Bonito, Aquidauana, Miranda, Poconé, Chapada dos Guimarães, Corumbá e Barão de Melgaço;
- 11 comunidades analisam a qualidade da água mensalmente;
- 5 rios são analisados: Formoso, Aquidauana, Miranda, Barragem do Manso, São Lourenço;
- 4.585 beneficiários diretos do programa como um todo;
- 800 pessoas beneficiadas diretamente pela potabilização da água;
- Já atingimos a marca de 3 comunidades com soluções de potabilização implementadas: Salobra, João Carro e Aldeia Indígena Mãe Terra.
Este projeto conta com o apoio da Everest Refrigeração Indústria e Comércio LTDA.

Foto: André Bittar