As últimas tendências mostram a forte influência do fenômeno El Niño no Brasil, incluindo a região do Pantanal. Nesse texto vamos entender as diferenças desse impacto na região Norte e Sul do bioma, bem como discutir o que os dados nos contam sobre estas estimativas. Entender quais os eventos podem influenciar o clima é essencial para discutirmos onde no Pantanal merece a nossa atenção.
O que é o El Niño?
O El Niño é um fenômeno climático que afeta o clima em várias regiões do mundo, incluindo o Brasil. Esse evento é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical, resultando em mudanças nos padrões de temperatura e precipitação atmosférica em diversas regiões do planeta.
Durante o El Niño, a temperatura da superfície do mar no Oceano Pacífico Equatorial torna-se mais quente do que o normal. Esse aquecimento está relacionado com alterações nos padrões de circulação atmosférica e oceânica, influenciando as condições climáticas em várias partes do mundo.
Esse vídeo do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) faz um ótimo resumo sobre o fenômeno. Confira:
Porém, é importante ressaltar que as consequências provocadas por esse fenômeno possuem efeitos diferentes dependendo da região do Brasil. Nós te explicamos no próximo tópico!
O El Niño no Brasil
No caso específico do Brasil, o El Niño pode provocar diferentes efeitos dependendo da região. Nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, o fenômeno está associado a uma redução da precipitação, trazendo períodos de estiagem mais fortes. Essas variações climáticas podem ter impactos significativos na agricultura, no abastecimento de água e na economia em geral.
Por outro lado, o El Niño pode resultar em um aumento na quantidade de chuvas na região Sul do país, enquanto no Sudeste e Centro-Oeste, não existem evidências de efeitos no padrão característico das chuvas.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET):
“No Brasil, em anos de El Niño, geralmente, a chamada corrente de jato subtropical (ventos que sopram na região subtropical de oeste para leste, se posicionando a 10 km de altitude) é intensificada, bloqueando as frentes frias sobre a Região Sul do País e causando excessos de chuva nos meses de inverno e primavera. Nas regiões Norte e Nordeste, há uma diminuição das chuvas nos meses de outono e verão, enquanto no Sudeste e Centro-Oeste, não existem evidências de efeitos no padrão característico das chuvas.”
Em resumo: o El Niño normalmente aumenta a quantidade de chuva nas regiões Sul e traz seca nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Como o El Niño deve afetar o Pantanal esse ano?
O El Niño está forte este ano. A tendência é que na parte Norte do Pantanal e seu entorno, na bacia do Alto do Paraguai, a região fique bem mais seca e suscetível ao fogo.
No que se refere a parte Sul, a tendência é mais otimista porque houve ocorrência de chuvas em outras microbacias que banham o Pantanal.
Leia o nosso texto sobre as queimadas: Comparando os incêndios de 2020 com 2021 no Pantanal: o que mudou?
A Seca no Pantanal
Quando olhamos o histórico recente da seca na região do Pantanal, realmente parece haver uma melhora, pois há mais água do que nos anos de extrema seca que o bioma passou desde 2019. Porém, quando olhamos para uma escala de tempo maior, a realidade é dura: o Pantanal está ficando mais seco. O gráfico abaixo demonstra essa diferença:
O gráfico é baseado no balanço hídrico do solo, padronização da precipitação e na estimativa (probabilidade) de chuva, desde 1955 até maio de 2023.
O SPEI Global Drought Monitor oferece informações quase em tempo real sobre as condições de seca em escala global. Ao olhar na plataforma os dados de precipitação local, nota-se que há uma grande variabilidade no Pantanal com períodos úmidos e secos entre 1950 até meados de 1990.
Porém, já a partir de 1993 percebemos o início da predominância de períodos mais secos, com tímidos períodos com o nível de água acima do nível. Podemos falar que há uma tendência à normalidade comparado ao período que gerou eventos catastróficos de 2019 a 2022, porém longe de ter uma normalidade comparado à outras décadas.
Apesar desses ciclos plurianuais (períodos de anos seguidos de cheia ou anos seguidos de seca) a tendência é uma área alagada menor, com a água ficando por menos tempo. Isso é reforçado pelo MAPBIOMAS que identificou a redução de 29% da superfície de água nas últimas três décadas.
Você pode estar se perguntando o que está causando essa diminuição tão considerável no Pantanal?! Inúmeros motivos justificam essa redução, como:
- O aumento do desmatamento dentro e fora do Pantanal (Só em 2022 a planície pantaneira teve 31.211 ha desmatados. Confira o relatório completo clicando aqui)
- As mudanças climáticas globais
- Represamento de água nas cabeceiras dos rios que descem para o Pantanal.
Incêndios no Pantanal em 2023?
O que podemos dizer é que quando estamos falando de incêndios, o cenário talvez mude um pouco. Tudo indica que o cenário não seja tão catastrófico como em 2020 ou em outros anos, mas é preciso monitorar de perto e estarmos sempre preparados.
Segundo Renata Libonati, do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) – UFRJ, “As condições atuais de seca para a região indicam maior propensão do fogo na parte norte do bioma.”
Resumindo: tudo indica que há tendência de diminuição de chuva, de aumento de temperatura e clima mais seco no Pantanal norte, e uma situação um pouco mais favorável para o Pantanal sul, com mais água e maior umidade do ar.
O mapa mostra o balanço hídrico do solo, padronização da precipitação e a estimativa (probabilidade) de chuva, entre maio de 2022 e maio de 2023, indicando uma massa seca principalmente no Pantanal norte.
O SOS Pantanal e outras instituições vêm trabalhando de maneira sólida na prevenção de incêndios no Pantanal nos últimos anos.
Este ano já começamos o ciclo de treinamento das brigadas para que elas continuem preparadas para agir sob qualquer sinal de fogo. Além disso, temos um time de monitoramento empenhado em acompanhar de perto o risco de incêndios.
Você pode conferir mais sobre os incêndios no Pantanal clicando aqui.
Você também pode apoiar a prevenção de incêndios no Pantanal. Clique aqui e saiba como ajudar!