Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros buscou compreender o efeito dos incêndios no Pantanal sobre a saúde dos moradores locais. Essa pesquisa inédita avaliou os efeitos climáticos nas hospitalizações por doenças respiratórias entre os anos de 2003 e 2019, analisando dados de todos os municípios que compõem o Pantanal.
Os municípios estudados foram Aquidauana, Bodoquena, Corumbá, Coxim, Miranda, Porto Murtinho, Rio Verde de Mato Grosso e Sonora, no Mato Grosso do Sul, além de Barão de Melgaço, Cáceres, Itiquira, Juscimeira, Mirassol d’Oeste, Nossa Senhora do Livramento, Poconé, Rondonópolis e Santo Antônio do Leverger, no Mato Grosso.
O estudo analisou dois grupos populacionais mais vulneráveis a apresentar doenças respiratórias, sendo eles crianças de até 5 anos de idade e os idosos (maiores de 60 anos). As análises resultaram em um aumento de 26 a 34% no número total de pessoas hospitalizadas por problemas respiratórios durante anos de seca. A taxa de incidência em crianças foi quatro vezes maior do que na população geral, e nos idosos, três vezes superior. Estes dados confirmam a vulnerabilidade destes grupos às mudanças na qualidade do ar.
A qualidade do ar é, principalmente, medida de acordo com o Material Particulado 2,5 (MP 2,5), que indica a quantidade de poluente atmosférico presente no ar respirado, constituído por partículas líquidas e sólidas, com diâmetro aerodinâmico menor ou igual a 2,5 micrômetros (µm).
A pesquisa ainda verificou que, conforme aumentava o número de focos de incêndios, a incidência de doenças respiratórias também aumentava em todas as faixas etárias, sendo que asma foi responsável por 15% das internações e bronquite, 8%.
Incêndios de 2024 acende alerta sobre a saúde dos pantaneiros
Os incêndios que incidem sobre o Brasil e, principalmente, sobre o Pantanal neste ano de 2024 são alarmantes. A seca extrema, o rio Paraguai batendo recordes históricos quanto ao seu baixo nível, são alguns fatores que contribuem para que a extrema seca perdure no bioma.
Frente a estas questões e preocupados com a saúde da população, pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) emitiram uma nota técnica alertando sobre os impactos das queimadas na saúde da população de Cáceres, cidade situada no Pantanal de Mato Grosso.
A intensidade dos incêndios em 2024 é alarmante, e seus impactos sobre a saúde da população e o meio ambiente são gravíssimos a curto e longo prazo”, advertem os cientistas.
De acordo com os dados coletados, o material particulado estava 15 vezes mais alto na atmosfera do que é considerado saudável pela Resolução Conama.
Incêndios são, também, uma questão de saúde pública
Os efeitos da fumaça passaram a ser evidentes no município de Cáceres, de acordo com a nota técnica. Relatos de dificuldade de respirar, aumento de atendimento em unidades de saúde e agravamento de condições como asma, bronquite e pneumonias passaram a ser mais frequentes.
A exposição prolongada a esses poluentes pode, inclusive, desencadear efeitos colaterais a longo prazo, como o desenvolvimento de doenças respiratórias e alérgicas crônicas e autoimunes.
Na nota, os cientistas descrevem uma série de recomendações importantes para que a população minimize os efeitos da fumaça no dia-a-dia. Porém, o mais importante, é que todos estejam conscientes e denunciem incêndios criminosos o mais rápido possível, para que a população e os animais sofram menos com a fumaça e a devastação.