*Por Fábio Paschoal
Com aproximadamente 195.000 quilômetros quadrados, o Pantanal é a maior área úmida do mundo.
Localizado na Bacia do Alto Paraguai (BAP), no coração da América do Sul, abrange parte dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e áreas na Bolívia e Paraguai. É um ecossistema complexo que funciona como elo de ligação entre Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Bosque Seco Chiquitano e, por isso, pode ser dividido em 11 microrregiões diferentes. São 11 pantanais, cada um com suas próprias características e singularidades. Graças a esses fatores, o Pantanal é reconhecido pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera.
O principal rio da BAP é o rio Paraguai, que se origina a partir de seis principais afluentes que também são rios pantaneiros (São Lourenço ou Cuiabá, Piquiri, Taquari, Negro, Aquidauana e Miranda). Estes, por sua vez, são formados pela soma de outros rios que têm as nascentes localizadas fora do Pantanal, no Cerrado sul-mato-grossense e no sul da Amazônia mato-grossense.
Estações (Cheia e Seca)
O bioma é regido pelo ciclo das águas, com duas estações bem definidas. Durante a temporada de seca (abril até outubro), a água que inundava a planície passa a ficar cada vez mais escassa e se concentra em pequenas poças, onde os animais se amontoam para matar a sede. As árvores perdem as folhas para economizar água e a paisagem, que antes era uma verde e exuberante, se torna marrom e árida.
A estação da cheia (novembro até março) começa com as primeiras chuvas. O rio Paraguai e seus afluentes recebem mais água do que conseguem suportar, transbordam e transformam o Pantanal na maior planície inundável do planeta. As terras baixas são ocupadas completamente pela água e os campos de vegetação herbácea se transformam nas vazantes. As aves que acasalaram durante a seca, se aproveitam da época de fartura para alimentar seus filhotes. Os mamíferos vão para lugares mais elevados, deixando os campos alagados para cegonhas, patos, jacarés e peixes que procuram por alimento entre as plantas aquáticas que começam a se desenvolver.
Biodiversidade
Todas essas características criam um ambiente rico em biodiversidade que abriga 3.500 espécies de plantas, 550 de aves, 124 de mamíferos, 80 de répteis, 60 de anfíbios e 260 de peixes de água doce. O Pantanal é a casa do tuiuiú, da arara-azul, das piúvas, do tamanduá-bandeira, dos carandás, da onça-pintada e de muitas outras espécies.
O povo é simples, hospitaleiro e possui uma sabedoria enorme adquirida pelo dia a dia da vida pantaneira. Ninguém deixa de te convidar para uma roda de tereré (o chá mate servido na guampa, um copo feito com o corno do boi) mesmo que nunca tenham trocado uma palavra com você anteriormente. O pantaneiro aprendeu a lidar com o gado durante a escassez e a fartura, e se adaptou ao ciclo das águas que dita o ritmo da maior planície inundável do mundo.
Outra peculiaridade do Pantanal é a distribuição das terras. 95% de seu território se encontra em propriedades privadas dedicadas à pecuária. Mesmo assim, aproximadamente 85% do bioma continua preservado. Isso pode parecer contraditório, mas os campos abertos são obra da natureza e não do homem. Não é preciso desmatar para iniciar a criação de gado e as águas que inundam a planície durante meses dificultam o desenvolvimento da agricultura.
Ameaças
No entanto, o bioma enfrenta problemas e, como as nascentes dos rios que alimentam o Pantanal estão no planalto, as principais ameaças vêm de fora:
- Desmatamento e manejo inadequado de terras para agropecuária causam erosões e sedimentação de rios.
- Barragens feitas para a construção de hidrelétricas alteram o regime hídrico natural.
- O crescimento urbano e populacional, normalmente seguido de obras de infraestrutura (rodovias, barragens, portos, hidrovias, etc) construídas sem critérios de sustentabilidade, colocam em risco o frágil equilíbrio ambiental da região.
Por essas razões a SOS Pantanal luta pela conservação da maior planície inundável do mundo.
*Fabio Paschoal é biólogo, jornalista e guia de ecoturismo. Foi editor e repórter de National Geographic Brasil por 5 anos e hoje é produtor de conteúdo da SOS Pantanal e da GreenBond