2020 não tem sido um ano fácil e, com o mundo em foco no COVID-19, mais uma notícia estarrecedora assombra o ano.
O Pantanal, santuário da biodiversidade, enfrenta a menor cheia dos últimos 47 anos e provavelmente também registrará a maior seca desse mesmo período. O nível de água do Rio Paraguai, muito abaixo do que o normal para a época, preocupa os pesquisadores.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que monitora os incêndios do Pantanal desde 1998, apontam uma baixa de 50% do volume de chuvas normal em todo o bioma no período de janeiro a maio, o que também torna o ambiente mais suscetível a incêndios. O INPE também registrou a maior quantidade de focos de queimadas desde o início de suas atividades. Os satélites do Instituto detectaram mais que o triplo de focos de incêndio para a mesma época do ano passado. Segundo o IBAMA/PrevFogo, comparando o mesmo período de 2020 com 2019 (01 de janeiro até 05 de agosto) são 2849 focos de calor em 2020 contra 834 em 2019 para todo o Bioma Pantanal. Isso representa um aumento de 241% de um ano para o outro. Somando os 2 estados, a área queimada passa de 1 milhão de hectares.
Com aumento do fogo, fumaça e calor, não acontece a evaporação de água e consequentemente não ocorrem formações de nuvens de chuva, piorando a situação da seca extrema.
O aumento do índice de incêndios tem se tornado um tendência no Pantanal.
A situação se torna mais alarmante quando se é notória uma tendência de crescimento nos índices de incêndios gerais. O Instituto Centro de Vida (ICV), que faz o monitoramento ambiental do Pantanal, emitiu um alerta de aumento de 530% nos registros de queimadas no Pantanal mato-grossense deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
Os incêndios já destruíram uma área equivalente a quase 2 vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro e, além de resultar em um enorme grande desastre ambiental a este bioma tão rico em biodiversidade, apresenta riscos à população, uma vez que alguns focos de incêndio se encontram próximos a centros urbanos.
O Coronel Ângelo Rabelo, diretor do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que trabalha combatendo a destruição no bioma há mais de 30 anos afirma ser uma situação muito triste e diz que se tornou habitual observar animais mudando suas rotinas na última semana. “Estamos observando macacos fugindo, aves desorientadas tentando encontrar um novo lar. Em mais de 30 anos trabalhando por aqui, nunca vi nada parecido, nessas proporções e condições climáticas”.
Ações estratégicas de combate aos incêndios já estão sendo tomadas.
O Pantanal abrange áreas do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, no Brasil, além de territórios da Bolívia e do Paraguai e reuniões diárias para elaboração de medidas de combate ao incêndio estão acontecendo nos dois estados brasileiros.
O Governo do Mato Grosso adiantou e estendeu o período proibitivo de queimadas devido à situação crítica do dia 1° de julho até 30 de setembro. Já o governo de Mato Grosso do sul, decretou situação de emergência ambiental por 180 dias em razão do alastramento dos fogos e suspendeu as autorizações para queimadas controladas no estado.
Várias instituições e órgão competentes estão atuando desde março no combate ao fogo e na última quinzena de julho o Governo Federal passou a enviar equipes de ajuda ao Pantanal.
Infelizmente essa história está longe de ter um final feliz. As mudanças climáticas tem se mostrado severas e o período de secas no Pantanal está apenas iniciando.
Texto por:
Fernanda Sá
Bióloga, Mestre em Ecologia de Biomas Tropicais.
Gostaria de saber se essa seca no Pantanal tem alguma ligação com o desmatamento da Amazônia, tendo em vista a diminuição dos Rios Voadores?
Sim, há relação. O desmatamento na Amazônia pode interferir no regime de chuvas em grande parte do Brasil, inclusive no Centro-oeste