Minha experiência diante do maior felino das Américas; no Pantanal, projetos aliam turismo com conservação da natureza e ajudam a proteger onças pintadas e araras azuis. Veja galerias de fotos dos animais
Giovana Girardi (Estado de São Paulo)
15 Maio 2017 | 05h00
O susto com o atoleiro e o encantamento com o desfile da Esperança deixaram todo mundo tão atordoado que ninguém no grupo conseguiu tirar uma foto decente do animal. A imagem que ilustra esta reportagem foi tirada há cerca de três anos pelo fotógrafo Adriano Gambarini, que registrou o projeto e diversos indivíduos da espécie para o livro ‘Panthera onca, à sombra das florestas’
“À beira da estrada, onde uma vegetação florestada mais alta cobria um pequeno riacho, a onça havia se entocado para pescar. Os guias que passaram a dica (de onde ela estava) tinham conseguido vê-la antes de ela se esconder. Nós só conseguíamos ouvi-la. Um barulho seco, da espinha do peixe se quebrando. E a expectativa de que ela poderia se irritar com a nossa intromissão na hora de sua refeição. Ou se incomodar com a gente e decidir se embrenhar de vez pela mata.
O guia-motorista decidiu tentar algo diferente. Contornar a matinha para tentar vê-la por trás. Mas a manobra não podia ter dado mais errado. Atolamos em um alagado. O carro, onze pessoas, a apenas alguns metros de uma onça.”
Esse é um trecho da história (Safári de onças une turismo e preservação) que conto na edição desta segunda-feira (15) no Estadão, sobre projetos de conservação no Pantanal que se aliam ao turismo para pesquisar espécies como a onça-pintada e a arara azul e estão ajudando a evitar sua extinção.
Os animais que vivem no bioma, além de enfrentar problemas como a perda de hábitat (quase 16% da área original de vegetação nativa já desapareceu), sofrem com algumas ameaças específicas. As onças ainda são vistas com assombro. Como contou um pantaneiro, a crença é: “se uma onça come uma vaca, pode comer um homem”. Apesar de haver poucos relatos de acidentes com seres humanos, o medo é usado como justificativa para matar o animal. São os trabalhos com turismo, que fazem a onça viva ser um negócio mais lucrativo.
O projeto Onçafari foi além e buscou trabalhar com o conceito de habituação para se aproximar do felino e compreendê-lo. Algumas das descobertas podem ser apreciadas na galeria de imagens abaixo.
‘Alguns resultados numéricos do projeto já indicam que mais animais estão na região no Refúgio Ecológico Caiman, o que pode significar que eles estão se sentindo seguros por ali. Em 2012, apenas um ano depois de iniciado, apenas 7% dos turistas diziam ter visto uma onça durante sua estadia. Em 2016, já eram 72%. Em termos de números de avistamentos, em 2013 eram 171, tanto pot turistas quanto por pesquisadores e guias. Já em 2016 foram 538 (um mesmo animal pode ser visto mais de uma vez).
Resultados bons também foram observados com as araras. Mas mesmo assim a preocupação continua. “Quanto mais eu estudo, mais preocupada eu fico, porque verifico quão suscetíveis as araras azuis são. Elas têm uma alimentação muito específica e uma taxa de reprodução muito baixa”, afirma Neiva Guedes, bióloga que iniciou o Projeto Arara Azul há cerca de 30 anos. Pelos cálculos do grupo, no ano passado, as aves botaram 106 ovos nos ninhos monitorados, mas apenas 32 filhotes voaram.
Conheça na galeria abaixo mais detalhes dos dois projetos e vejam outros animais simbólicos do Pantanal que também se beneficiam dos projetos de conservação das duas espécies bandeiras.
Confirma a matéria na íntegra.